

EXPERIÊNCIA MONÁSTICA
FAÇA PARTE DE NOSSA FAMÍLIA
Proposta para uma vida comunitária
São Paulo, 25 de junho de 2020
Queridos irmãs, queridos irmãos unidos pela mesma causa e com os mesmos propósitos, quais sejam, encontrar, na espiritualidade beneditina, um caminho seguro para uma vida autêntica.
Na última reunião online, ocorrida no dia 13 de junho de 2020, expressamos nosso desejo de iniciar o projeto para uma futura vida em comunidade, de recolhimento, oração e trabalho em uma chácara de cerca de cinco mil metros localizada no município de São Roque (SP). Na ocasião, não tivemos tempo de expor o projeto mais detalhadamente, mesmo porque, a ideia ainda não estava amadurecida.
O projeto, que ora dispomos, não deve ser entendido como definitivo, tendo em conta a sua complexidade. No entanto, achamos por bem traçar algumas linhas apenas no intuito de deixar menos nebulosa a nossa intenção.
1. Ideia geral do projeto:
O projeto nasceu como sequência natural de uma espiritualidade que tem seu foco principal na vivência comunitária e fraterna. As reuniões, embora importantes, não conseguem expressar a riqueza de uma vida em comum, na partilha de sentimentos e apoio mútuo. Nesse sentido, a inspiração de formar comunidade atende às aspirações dos bispos do Brasil (Estudos da CNBB n. 104: Comunidade de Comunidades: Uma nova Paróquia), segundo quem, a vida comunitária deve ser constituída com os seguintes ideais:
a) Hospitalidade.
O missionário confia que será acolhido pelo povo. Sua atitude deve provocar o gesto comunitário da hospitalidade (cf. Lc 9,4; 10,5- 6). Os discípulos e as discípulas não devem levar nada nem sequer duas túnicas (cf. Mt 10,9- 10). A única coisa que podem levar é a paz (cf. Lc 10,5).
b) Partilha.
Não andar de casa em casa, mas ficar hospedados na primeira casa em que forem acolhidos, isto é, são chamados a conviver de maneira estável como membros da comunidade e, em troca, receberão sustento, “porque o trabalhador tem direito a seu salário” (Lc 10,7). Precisam se integrar na vida e no trabalho da comunidade local e confiar na partilha.
c) Comunhão de mesa.
Não levar sua própria comida, mas comer o que o povo lhes oferece (cf. Lc 10,8). Outros missionários (cf. Mt 23,15) iam prevenidos: levavam sacola e dinheiro para cuidar da sua própria comida, pois não confiavam na comida do povo que nem sempre era ritualmente “pura”. Para os discípulos de Jesus o valor comunitário da convivência fraterna prevalece sobre a observância de normas rituais. Isso supõe aceitar a comunhão de mesa.
d) Acolhida aos excluídos. Como tarefa especial, os discípulos curam os doentes, libertam os possessos, purificam os leprosos (cf. Lc 10,9; Mt 10,8), isto é, cuidam dos excluídos e, ao acolhê-los, refazem a vida comunitária.
2. Objetivos:
Dispor de um lugar tranquilo a fim de possibilitar a todas as pessoas, em especial leigos, solteiros ou casados, a experiência de vida comunitária semelhante àquela dos monges e monjas em suas clausuras através de um tempo dividido entre oração, trabalho e partilha de vida, de modo a possibilitar, para os leigos, as mesmas bênçãos advindas de uma vida contemplativa, unida a Deus. Segundo o mesmo documento dos bispos do Brasil, “a dimensão comunitária é fundamental na Igreja, pois se inspira na própria Santíssima Trindade, a perfeita comunidade de amor. Sem comunidade, não há como viver autenticamente a experiência cristã” (p. 31).
3. Justificativa
Nosso mundo contemporâneo é bombardeado de notícias, relações virtuais, vida dedicada mais ao trabalho que à família, situações que conduzem à solidão e não poucas vezes ao desespero. Por outro lado, os filhos não têm tempo para dedicar aos pais, seja porque têm seus próprios filhos, seja por serem “engolidos” pelo trabalho.
Nesse sentido, nossos vínculos sociais se tornaram frouxos e pobres, levando ao vazio existencial e à falta de sentido.
A comunidade de irmãos que se dedicam a servir a Deus e a buscá-lo como fonte única de paz e felicidade é a única resposta possível em um mundo sem alternativas. É a comunidade que nos faz saber quem somos e em quem queremos nos tornar. Por isso, não é somente necessária, mas urgente.
No documento Gaudete et exsultate, (n. 140 e seguintes) do Papa Francisco, lemos:
“É muito difícil lutar contra a própria concupiscência e contra as ciladas e tentações do demónio e do mundo egoísta, se estivermos isolados. A sedução com que nos bombardeiam é tal que, se estivermos demasiado sozinhos, facilmente perdemos o sentido da realidade, a clareza interior, e sucumbimos (...). A santificação é um caminho comunitário, que se deve fazer dois a dois. Viver e trabalhar com outros é, sem dúvida, um caminho de crescimento espiritual. São João da Cruz dizia a um discípulo: estás a viver com outros «para que te trabalhem e exercitem na virtude».
A comunidade é chamada a criar aquele «espaço teologal onde se pode experimentar a presença mística do Senhor ressuscitado». Partilhar a Palavra e celebrar juntos a Eucaristia torna-nos mais irmãos e vai-nos transformando pouco a pouco em comunidade santa e missionária. Isto dá origem também a autênticas experiências místicas vividas em comunidade, como no caso de São Bento e Santa Escolástica.
A comunidade, que guarda os pequenos detalhes do amor e na qual os membros cuidam uns dos outros e formam um espaço aberto e evangelizador, é lugar da presença do Ressuscitado que a vai santificando segundo o projeto do Pai”.
4. Ações
Com o fim de viabilizar esse ideal, disporemos de terreno suficiente para cada pessoa, partícipe da Associação dos Filhos e Filhas de São Bento, a possibilidade de construir a sua própria célula (quarto com banheiro) que, conforme São Bento, é o lugar de especial encontro com Deus.
A célula construída pertencerá à Associação, mas poderá ser usada livremente por aquele que a construir, desde que sua utilização não venha a ferir nosso ideal de vida. Quando aquele que a construiu não estiver presente, poderá, eventualmente, dispô-la a fim de que possa proporcionar a outras pessoas, a mesma experiência comunitária. Agindo assim, estará ajudando aqueles que não dispõem de recursos para construir a própria célula, mas que estão machucados, necessitando de conforto.
Concomitante à construção das células, iniciaremos também a construção da capela, a fim de que o louvor ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, esteja no centro das nossas atividades diárias.
Esse centro de espiritualidade, além de proporcionar uma ascese pessoal, também terá o objetivo de acolher os sofredores e ajudar a aliviar sua dor por meio de uma acolhida calorosa e fraterna.
Pensamos que a vida monástica funciona bem, mas para os monges e monjas. Isso não parece fazer sentido para leigos solteiros ou casados. Mas você sabia que São Bento não idealizou a vida ascética para religiosos, mas para os cristãos em geral?
Com o desejo de "voltar às origens", estamos criando, em São Roque, SP, em uma linda área verde, um "mosteiro leigo". Teremos células (quartos) para moradores fixos e lugares para quem quiser fazer a experiência monástica, vivendo, em um dia ou mais, a mesma rotina de um mosteiro de monges. Abaixo, o horário de um dia monástico:
5:00 - despertar
5:20 - oração das vigílias
5:45 - leitura e meditação
6:15 - laudes
6:30 - santa missa
7:00 - café da manhã em silêncio
8:00 - trabalho
12:00 - angelus e hora sexta
12:20 - almoço em silêncio
13:00 - descanso
14:30 - hora nona
14:45 - trabalho ou estudo
17:00 - vésperas e oração do terço ou adoração ao Santíssimo Sacramento
18:00 - jantar em silêncio
19:00 - partilha de vida
21:00 - completas
21:20 - grande silêncio, recolhimento nas células, repouso